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"Como é bom ter um xará, meu próprio nome chamar, o outro que sou eu mesmo é tão difícil achar." Dilan Camargo

segunda-feira, 27 de abril de 2009

momento de inconstância...

É incrivel como a vida de um bipolar é inconstante. A uma semana atrás, pensava que minha vida havia chegado no melhor momento, estava equilibrada; e se continuasse a manter o tratamento, a psicoterapia, natação, dieta alimentar e etc... consegueria me manter bem. Nem tinha percebido, que andava bem demais. E bem demais para um bipolar não existe. Primeira regra dessa guerra: "Conheça, o inimigo que existe dentro de ti". Nunca confie nos seus sentimentos, desconfie sempre do que sua mente está lhe dizendo. Observe as reações do seu corpo. Observe as suas atitudes. Pergunte, sempre, por quê? 
Me deixei levar pelos sentimentos de bem estar, não percebi que estava comprando coisas, nada muito caro, mas pequenos e constantes, num sábado passei a tarde fazendo pequenas compras. Aiiiiii meu cartão!!! Venho saindo, bastante durante a semana, baladas, barzinhosss e shows e com elas bebendo cada dia um pouco mais e constantemente, me concentrando pouco e produzindo nada. O resultado já se sabe! Saldo de caixa, mais que vermelho. Eeeeeeee estava tudo muito bem.
As coisas só ficam ruim mesmo, quando começam vir as chuvas fortes, os trovões e os relampagos. Enquanto o sol está brilhando você acha que está pegando um bronseado, só percebe as queimaduras quando chegam as nuves escuras e com elas as sombras. Num dia da semana passada me irritei com uma besteira no trabalho, hoje pensando nos motivos, realmente coisa boba, senti aquela velha iraaaaaaaaaaa, travando os dentes. Mas, fui para casa e procurei me acalmar, tomei meus remédios e fui dormir. Como sempre, preciso deixar a tv ligada até os remédios fazerem efeito e o sono vir, mas isso não demora mais que meia hora. Só que nessa noite, isso não foi assim. Tudo estava diferente.  Já fazia muito, mas muito tempo que não sabia o que era ter dificuldades para domir. Com a falta de sono veio uma crise de ansiedade, como eu nunca havia sentindo antes. Já havia tido outras, mas essa foi a pior de todas.
Essa crise foi diferente porque tinha consciência do que exatamente estava acontecendo comigo, o coração parecia parar de bater por alguns segundos, tipo.. ele ia enchendo, enchendo e quando deveria bombar o sangue de volta se contraia e não soltava o sangue por alguns segundos; ansia de vômito, senti uma imensa vontade de correr para o banheiro e enfiar os dedos na garganta e vômitar; dificuldades em respirar, o ar não passava pelas narinas, era preciso buscar o ar profunda e lementamente pela boca; e, por último chorava desesperadamente. Acredito que esse quadro durou quase meia hora, quando tive um flash. Me levantei, abri as janelas do apê e comecei a andar, me movimentar e assim fui me acalmando, lembrei que ainda tinha um anseolitico que o psiquiatra receitou para o caso de eu não conseguir dormir, achei que era o caso e tomei.
Depois desses momentos de verdadeiro terror (para quem passa) fui para frente do computador e liguei a web cam para ver meu estado, não sei porque não fui para frente do espelho, seria menos complicado. Acho  que queria gravar, mas quando olhei o meu rosto fiquei apavorada, havia outra pessoa. 
Nos ultimos dias tenho sentido medo de dormir sozinha aqui em casa, deixo a TV ligada até não aguentar mais e sentir que vou dormir mesmo, com medo que essa outra pessoa apareça. Pela manhã, acordo extremamente cansada e tenho vontade de dormir até a hora que meu corpo e mente quiserem. Foi o que fiz no final de semana, fiz festa durante a noite e dormi durante o dia.  
  Desde essa noite venho travando uma luta interna para dominar essa ansiedade, durante o dia tenho que dominar a vontade de correr para casa e dormir, quando sinto aquele mal estar, tento me concentrar em alguma coisa; concentração aliás que anda bem dificil, sem falar nas falhas de memória, simplesmente esqueço o que estou fazendo ou o que queria fazer ou coisas que já fiz e hoje senti muita dor de cabeça, sinto vontade de abrir o crânio para aliviar a pressão, hoje  a natação não ajudou a mente, mas o corpo não está doendo tanto.
Este momento está sendo muito dificil, porque meu psiquiatra tá de férias, minha terapeuta tá em um congresso, mas consegui falar com ela, me disse para ir no hospital e eu disse que não iria. Não quis ir porque, remédio eu já tenho e se é para me dar remédio e eu apagar eu não quero, o que tomo já é suficiente.
O que sinto agora é uma revolta, estou furiosa comigo mesma, por ter me decepcionado dessa maneira. Eu andava achando que tudo que eu fazia já era o suficiente para estabilizar. Uma das característica dos bipolares é a ilusão. 
Eu achedito que desde que fui diagnósticada melhorei muito. Mas, só agora tomo consciência de que melhorei, não estou curada, mesmo porque não existe curada. Sei que faço um esforço enorme, tanto no lado emocional, como no financeiro. A grande pergunta de agora em diante é, o que mais pode ser feito?


domingo, 5 de abril de 2009

O começo...


Eu não sei exatamente quando tudo começou.
 Hoje, olhando para o passado, um passado que não me parece tão distante, vejo aquela época como uma fase nebulosa, momentos de completa escuridão. A minha vida não fazia sentido algum. Era como se eu estivesse amarada a uma roda que girava constantemente. Nada tinha começo nem fim. Vivia por viver. Não havia pensamentos lógicos ou planos para o futuro. Não sabia onde estava, tão pouco onde queria chegar. 
Meus dias eram vividos sob completa ilusão. Me iludia com ganhar muito dinheiro, com falsos amigos, com um amor impossível e com muitas outras coisas que iam e vinham sem se fixar na realidade. Vesti uma máscara que escondia quem eu era. Me escondi não só de todos que me cercavam, mas de mim mesma. Acho que as ilusões me mantinham viva físicamente, porque emocionalmente estava morta para o mundo.
Não demorou para que os vícios se tornassem meus companheiros de solidão e desilusões, fumava e fumava muito, mas o vício do cigaro não era suficiente para suprimir as angustias diarias, o álcool entrou pela boca como um anestésico sentimental. Cada gole, anestesiava o coração da angústia e funcionava como um alívio para dor. Começava o dia meio acordada e terminava bêbada em algum boteco da cidade. Nem sei como chegava em casa, nem nunca foi presa por dirigir alcolizada e graças a Deus nunca me envolvi em nenhum acidente, só graças a Ele.
Meu dia-a-dia era sair da cama, trabalhar, ir para um bar, beber, voltar pra casa e tentar dormir ou passar as noites em claro acompanhada de cigaro a cigaro aguardando minuto a minuto que a noite se fosse e o dia começasse de novo. 
Não percebi quando a única coisa que tinha na vida, tinha se tornado meu próprio inferno. Quanto mais me afundava no trabalho, mais ele me destruia. Desde da primeira até a última hora consciente do dia, tudo se resumia a puro estresse. Eu pensava nos problemas que me cercavam todos os minutos em que estava consciente. E assim foi até bem pouco tempo.
Assim o tempo ia passando e eu não tinha a menor consciência no que se transformara a minha vida. Cada descisão, cada atitude que tomava tentando melhor minha vida profissional a transformava num caos maior, não tinha a menor noção do que fazia, porque tudo era feito por impulso. 
Chegou um momento que havia só raiva e rancor, qualquer coisa era motivo suficiente para detonar um acesso de ira, quando a ira imundava meu cérebro a reação sempre era agredir. Quando não podia reagir, passava remoendo tudo, construindo um paiol de dinamite que logo, logo iria explodir a mim mesma.
É tão contraditorio, que uma pessoa que tenha enterrado toda a sua vida sentimental tenha se tornado uma pessoa completamente impulsiva.
As coisas ainda ficariam muito pior, mas isto é uma próxima postagem. Espero poder seguir relatando minha história para que se alguém vier a lê-la venha a saber que houve outra escolha!
 


sábado, 4 de abril de 2009

reescrevendo minha história..um poema para celebrar

Não sei exatamente de onde veio, nem quem escreveu, mas escolhi como meu decreto de vida!


 ESTATUTO DO HOMEM 

(Ato Institucional Permanente)

    

   Artigo I 
  
   Fica decretado que agora vale a verdade. 
   agora vale a vida, 
   e de mãos dadas, 
   marcharemos todos pela vida verdadeira. 
  
   Artigo II


   Fica decretado que todos os dias da semana, 
   inclusive as terças-feiras mais cinzentas, 
   têm direito a converter-se em manhãs de domingo. 
  
   Artigo III 
  
   Fica decretado que, a partir deste instante, 
   haverá girassóis em todas as janelas, 
   que os girassóis terão direito 
   a abrir-se dentro da sombra; 
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, 
   abertas para o verde onde cresce a esperança. 
  
  
 Artigo IV 
  
   Fica decretado que o homem 
   não precisará nunca mais 
   duvidar do homem. 
   Que o homem confiará no homem 
   como a palmeira confia no vento, 
   como o vento confia no ar, 
   como o ar confia no campo azul do céu. 
  
   Parágrafo único: 
 
  O homem confiará no homem 
  como um menino confia em outro menino. 
  
  Artigo V 
  
   Fica decretado que os homens 
   estão livres do jugo da mentira. 
   Nunca mais será preciso usar 
   a couraça do silêncio 
   nem a armadura de palavras. 
   O homem se sentará à mesa 
   com seu olhar limpo 
   porque a verdade passará a ser servida 
   antes da sobremesa. 

 
   Artigo VI 
  
   Fica estabelecida, durante dez séculos, 
   a prática sonhada pelo profeta Isaías, 
   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos 
   e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. 
  
   Artigo VII 

   Por decreto irrevogável fica estabelecido 
   o reinado permanente da justiça e da claridade, 
   e a alegria será uma bandeira generosa 
   para sempre desfraldada na alma do povo. 
  
   Artigo VIII 
  
   Fica decretado que a maior dor 
   sempre foi e será sempre 
   não poder dar-se amor a quem se ama 
   e saber que é a água 
   que dá à planta o milagre da flor. 
  
   Artigo IX 

   Fica permitido que o pão de cada dia 
   tenha no homem o sinal de seu suor. 
   Mas que sobretudo tenha 
   sempre o quente sabor da ternura. 
  
   Artigo X 

   Fica permitido a qualquer pessoa, 
   qualquer hora da vida, 
   o uso do traje branco. 
  
   Artigo XI 

   Fica decretado, por definição, 
   que o homem é um animal que ama 
   e que por isso é belo, 
   muito mais belo que a estrela da manhã. 
  
   Artigo XII 
  
   Decreta-se que nada será obrigado 
   nem proibido, 
   tudo será permitido, 
   inclusive brincar com os rinocerontes 
   e caminhar pelas tardes 
   com uma imensa begônia na lapela.

 

   Parágrafo único: 

 
   Só uma coisa fica proibida: 
   amar sem amor. 

  
  
   Artigo XIII 
  
   Fica decretado que o dinheiro 
   não poderá nunca mais comprar 
   o sol das manhãs vindouras. 
   Expulso do grande baú do medo, 
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal 
   para defender o direito de cantar 
   e a festa do dia que chegou. 
  
   Artigo Final

 

   Fica proibido o uso da palavra liberdade, 
   a qual será suprimida dos dicionários 
   e do pântano enganoso das bocas. 
   A partir deste instante 
   a liberdade será algo vivo e transparente 
   como um fogo ou um rio, 
   e a sua morada será sempre:
   o coração do homem.