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"Como é bom ter um xará, meu próprio nome chamar, o outro que sou eu mesmo é tão difícil achar." Dilan Camargo

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Não fale do que não sabe!

Tem pessoas que não deveriam abrir a boca para fazer comentários a respeito de coisas que não conhecem. Faz alguns dias tive o desprazer de ouvir de um senhor, professor universitário, o seguinte comentário, que segundo o Diogo Lara,  do livro sobre bipolaridade, que Passo Fundo era uma cidade onde o índice de bipoles era altíssimo, que ele havia lido o livro e que ainda conhecia o Diogo Lara, que no livro tem uma tabela com os níveis de bipolaridade e que para os bipolares ficassem estáveis era só tomar um estabilizar de humor.
Quando ouvi essa frase: "É só tomar um estabilizador de humor que melhora", fiquei furiosa, engoli a comida inteira. Já não simpatizava muito com essa pessoa e a partir daquele dia, passei a detestá-lo. Esse senhor acha que porque leu o livro do Diogo Lara, já sabe tudo sobre bipolaridade. A sorte dele foi que o celular tocou e o assunto esfriou, porque já havia me vindo a boca um monte de merda para dizer à ele.
Desde que foi diagnósticada, passei a me informar ao máximo sobre bipolaridade, li vários livros, inclusive os do Diogo Lara, vi documentários, artigos em jornais, revistas, na internet e tenho acompanhado vários blogs de bipolares para saber como eles se comportam, o que sentem e o fazem para viver melhor, trocando figurinhas quem sabe podemos nos ajudar. Minha terapeuta disse para eu parar de ficar lendo tanto sobre bipolaridade, eu disse que não pararia porque quanto mais conhecimento eu adquirir sobre bipolaridade, melhores serão as minhas chances de lidar com ela.
Eu passarei a acreditar que tratar a bipolaridade como um estado de bom ou mau humor, tristeza e felicidade é simplificar demais as coisas. Aliás viver com a bipolaridade não tem nada de simples e não basta tomar um carbolitium que fica tudo bem. A bipolaridade, na verdade, nos impede de ter uma vida comum.
Ser bipolar é acordar pela manhã, abrir os olhos e sentir seu corpo afundar-se no colchão, fazer um enorme esforço para sair da cama e mesmo assim não conseguir abrir os olhos. Tomar café da manhã com carbolitium, passar o dia equilibrando-se entre o céu e inferno, tentando lembrar e esquecer que qualquer coisa pode mudar tudo e também tentando lembra-se do que esqueceu, precisar pensar sobre tudo o que sente, faz e querer. Nunca ir para a cama sem carbolitium, seroquel e apraz e ainda assim não saber como vai ser sua noite. Ver o seu corpo mudar por causa de remédios, controlar o que come e bebe, ter sintomas e não saber se são físicos ou psicológicos, passar por momentos tão angustiantes, que a única pessoa com quem se pode dividir é no máximo sua terapeuta e ainda não saber se ela acredita ou não. Não saber se as pessoas que você ama e que amam você vão aguentar por muito tempo ou olhar para elas e ver que não sabem nada sobre você ou não conseguem entender o que se passa com você, ter que preocupar-se, se está triste e também se está feliz.
Se ser bipolar é simples, deveria haver um vírus para infetar naqueles que pensam assim, porque depois é só tomar um carbolitium que passa.

P.S. Caso o Diogo Lara leia este blog ( o que dúvido muito)
Citei-o porque, realmente, você foi citado na conversa e não encontrei outra forma de introduzir o assunto. Não acredito que tenha dito aquilo.