Quem sou eu

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"Como é bom ter um xará, meu próprio nome chamar, o outro que sou eu mesmo é tão difícil achar." Dilan Camargo

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Hoje falei...

Faz alguns dias, ando muito triste, já tive momentos piores que este, mas nunca havia sequer comentado qualquer detalhes da minha infância e/ou adolescência, com qualquer um dos meus amigos, no entanto, hoje foi diferente.
Minha amiga C. me chamou para irmos beber. Fomos tomar umas cevas num barzinho. Tomamos várias. Entre um assunto e outro falei. Falei dos espancamentos na infância e adolescência. Falei do terrorismo, dos tormentos...quase chorei; mas consegui me conter.
Eu não sei porque isso saiu, porque em momentos muito mais difíceis nunca consegui abrir a boca a respeito de qualquer coisa que se havia acontecido no meu passado. Acredito que tem algo acontecendo, só não sei o quê!

domingo, 11 de outubro de 2009

desassossegos...

"Que desgosto o mate, cevado de mágoas pra quem não se basta pra viver tão só.." Este é o trecho de uma música, nativista aqui do sul, chamada "desassossegados". Esta música sempre me toca de uma maneira especial.
É domingo, a noite conheça a cair e com ela uma tempestade. Os trovões ecoam forte e, ao longe os relâmpagos iluminam a noite, o vento "minuano" assovia solitário lá fora, tão solitário como eu aqui, tomando um mate amargo.
A solidão não me trás tristeza, muito pelo contrário, gosto do sossego que ela proporciona. Depois de dias conturbados, que acabei por perder a cabeça várias vezes e fez brotar uma sensação de revolta, por ser vítima da injustiça e maldade de uma pessoa, que não consigo entender porque me quer tão mal.
Passar um dia como esses, me faz refletir sobre o quanto nossa vida depende unicamente de nós mesmos, somos seres criados individualmente e nossa vida nos pertence. É tão verdade isso, que quando nascemos somos desconectados da outra vida que nos gerou, porque se continuarmos ligados certamente morreremos. No entanto, há pessoas que acham que somos devedores delas, que o nosso ser as pertence, que nossas vidas devem ser vividas sob o controle, vontade e direção delas.
O desassossego que um momento como esse me trás é no sentido de que passamos uma vida toda ligadas a certas pessoas, dando muito mais de nós à elas, do que a nós mesmos e são essas mesmas pessoas que deixam marcas muito profundas e dolorosas em nossas vidas, que possivelmente ficarão para sempre conosco.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Apontamentos...

No começo da segunda fase da minha crise, a depresiva, fui logo ao psiquiatra, então ele aumentou o dosagem de carbolítio e diminui o soroquel, me senti um pouco melhor, no entanto ainda me sentia pesada. Uma semana depois voltei ao consultório, para o médico acompanhar a evolução da medicação, diante das queixas de estar carregando um peso enorme, receitou-me effecsor. Mais uma vez, senti-me levamente melhor, mas me sentia muito amarrada, sair da cama estava praticamente impossível, produzir qualquer coisa e buscar resultados objetivamente nem pensar. Meus dias no trabalho eram como se eu andasse em círculos. Depois do aumento geral da medicação passei a comer mais e engordei alguns kilos, já não gosto de me ver no espelho e estou me sentindo culpada por ter engordado, não fui para a natação por alguns dias, a desculpa...estava muito frio, só percebi a ansiedade quando senti que engolia a comida inteira. Como já não aguentava mais andar me arrastando, cheguei a conclusão que aqueles sintomas poderiam ser, excesso de medição, ponderei e cheguei a conclusão que poderia estar um tanto intoxicada pela sobre carga de remédios. Decidi então, por conta própria, fazer uma experiência, reduzir a medicação. Tinha plena consciência dos riscos, como estava numa crise de depressão e a medicação era para me fazer superar essa crise, a redução da medicação poderia me levar ao outro pólo, para não me arriscar muito, achei que uma semana seria o suficiente para sentir algum resultado positivo, a medida que me sentisse melhor estenderia a experiência por mais um dia e por outro e por outro, mantendo sempre um horário na agenda do meu psiquiatra para alguma necessidade urgente, deixei o sinal de alerta ligado para não perder o controle, o objetivo era conseguir me manter estável por no mínimo duas a três semanas, no final da terceira semana iria ao psiquiatra para discutir o assunto.
Os resultados: Ao terceiro dia da primeira semana, sentia-me bem, aquela sensação de amarração estava se desafazendo e fui melhorando gradativamente. Entrei na segunda, sentindo-me estável e até hoje sinto-me no meu normal, acordo no horário sem precisar de despertador, se chove ou faz sol, se tá frio ou tá calor trabalho num mesmo ritmo, estou menos irritável, tenho mais paciência para resolver problemas e lidar com as pessoas no meu dia-a-dia. Num dia, em que precisei ser mais àgil e tomar decisões mais rapidamente, sofri uma certa pressão e o dia foi mais estressante, senti dor de cabeça até a noite quando tomei a medicação e fui dormir, no outro dia passei bem.
A consulta com o psiquiatra ficou definitivamente para a semana que vem, quero ver a análise dele a respeito disso, espero sinceramente que essa estabilidade continue, porque me fez bem.
Quero deixar claro, que essa experiência está funcionando comigo e não sei até onde vai funcionar, tenho plena consciência de que a qualquer momento posso ter que voltar atrás e admitir que estou completamente enganada. Não abondonarei a orientação do meu médico, nem vou deixar de tomar medicação. Portanto, não façam a mesma coisa, sou uma bipolar média ou nem isso, então os riscos que corri, fazendo por conta própria essas alterações na medicação, eram mínimos e também não estava numa crise de depressão profunda, tudo era bem administrável.
Com essa postagem quero registrar uma experiência que está funcionando comigo e para me lembrar que as coisas sempre podem ser mudadas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A paranóia do vírus H1N1

Até agora eu vinha acompanhando muito superficialmente as noticiais a respeito da gripe A, mas ao transitar pela cidade é impossível não perceber as mudanças de compartamento das pessoas.
Nós últimos dias não se fala em outra coisa, os jornais, as rádios e telejornais só falam nisso. Segundo, as noticiais veículadas pelos meios de comunicação, aqui na cidade, foram duas mortes e outros quatro casos suspeitos. E qualquer pessoa que morre, já sai a notícia de que é mais um caso suspeito, mesmo que depois venha o resultado de exame dizendo que a pessoa não tinha o vírus.
A paranóia já está instalada. As férias escolares antecipadas, a universidade suspendeu as aulas e cancelou as formaturas, só de gabinete, os bares e restaurantes esvaziaram, as lojas estão as moscas, as pessoas passaram a andar nas ruas e nos ônibus de mascaras e em algumas repartições públicas os funcionários estão trabalhando de mascaras, quase todo o lugar que se vai tem alcool para lavar as mãos, missas, cultos, festas tudo cancelado. Os únicos lugares lotados são os hospitais, postos de saúde, clínicas e etc.. justamente o foco do vírus.
A imprensa despenca esse terror sobre as pessoas, mas esquecem de informar que as pessoas que morreram já tinha outras complicações de saúde, não informa também que para pegar vírus, bacterias você precisa estar exposto a uma grande concentração desses e é justamente nos hospitais que está a concentração do vírus.
Aqui no sul estamos vivendo um dos invernos mais rigorosos dos últimos tempos, além de muito frio, também úmido, assim é natural que as pessoas fiquem gripadas e qualquer espirro que se dê as pessoas saltam longe.
Vivemos num mundo em que as pessoas poucos se relacionam e cada dia mais se isolam e ainda agora as pessoas falam contigo através de uma máscara, não apertam mais as mãos, não se encontram em bares para tomar uma cerveja e nosso velho e amargo chimarão é excluído das rodas de amigos, para tomar solitariamente.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Resoluções nas crises.

Estou em crise, outra vez. Desde abril venho oscilando, segundo meu psiquiatra eu estava fazendo uma hipomania. Agora estou entrando em depressão, semana passada surtei, não sei o que foi aquilo, cheguei em casa e entrei em desespero, não conseguia tirar a roupa para me deitar, bateu uma tristeza enorme, chorei como criança e aquele velho fantasma veio habitar meus pensamentos, foi como um raio numa noite de tempestade, iluminou a escuridão. Morrendo de medo corri para o colo da única pessoa para quem eu consigo confiar essas situações. Mesmo assim, o medo continua rondando as minhas noites, porque ainda não achei explicação para eu trancar a porta do quarto, sendo que moro sozinha, num apartamento de um quarto.
Já li em muitos lugares que quando aprendemos a identificar os sintomas, podemos administrar melhor as crises. Mas como se pode administrar o que não tem? Quando estou entrando em crise o meu dissermimento a respeito das coisas que sinto é completamente confuso. Quando eu estava na euforia só percebi que estava mal quando tive um crise horrorosa de ansiedade. E, agora, na maior parte do tempo, não me sinto nenhum pouco depressiva, a não ser pelo surto da semana passada, os sintomas mais recorrentes são com a memoria, que tem me causado bastante dificuldade no trabalho, não me concentro em nada, perdi compleamente o foco. As dificuldades começam em sair da cama. No começo fui me permitendo sair da cama um pouco mais tarde e nos ultimos dias estava chegando depois das dez no trabalho, sinto palpitações, meu coração parece com um bolha que explode, volta a encher e volta a explodir, nos finais de tarde começa sempre uma dor de cabeça é como se meu cérebro estivesse todo inchado.
Eu tenho verdadeira aversão as minhas falhas de memória, sempre tive uma excelente memória sempre agi e reagi muito rapidamente a tudo, sempre fui muito agil e eficaz nas minhas tarefas, mas começo a perceber que isso faz parte do processo. Bueno, estou me observando, porque o médico disse que isso pode ser consequencia da crise ou dos medicamentos, como mexemos na dosagem dos remédios para eu estabilizar, temos que aguardar a ação dos medicamentos.
Hoje, a vadiagem se instalou no meu corpo, não fiz absolutamente nada de produtivo no trabalho. Também, com um dia frio, cinzento e chuvoso como o de hoje, não dava para esperar muita coisa. Fiquei na frente do pc pensando sobre o que quero para minha vida, como já fazia alguns dias que vinha pensando que está mais do que na hora de eu começar e terminar uma faculdade e que curso fazer, troquei umas idéias, pelo msn, com uma amiga que trabalha na assessoria de imprensa da universidade, decidi no final do ano, fazer vestibular para história. Ela me incentivou a me inscrever no ENEM e depois tentar uma bolsa pelo PROUNI, já que os médicos e remédios estouram minha vida financeira. Estou inscrita, que venha a prova e o vestibular, o último espero eu.

sábado, 11 de julho de 2009

acreditar em quem ou no quê?

Minha mãe sempre foi uma rocha. Desde criança sempre a vi como um general no comando de sua tropa, os filhos. Sua vida foi desde muito cedo uma guerra, aos 16 anos casou-se com meu pai, primeiro e único homem de sua vida, antes dos 17 anos já tinha o primeiro filho e ao completar 17 já o tinha enterredo, aos 45 anos pariu seu décimo terceiro filho e já tinha enterrado quatro. Nunca há vi lamentar a perda dos filhos, sempre disse, Deus sabe o que faz. Aliás sua fé sempre foi inabalável, acontecesse o que acontecesse, nunca arredou pé do que acreditava. Meu pai, sempre foi um coadjuvante em nossas vidas, nunca foi ligado a família, mulherengo, abandonova-á sempre que estava gravida, depois voltava com a desculpa de ver a criança e acabava ficando até a próxima gravidez, mal provia o necessário para o sustento da família, sempre foi um homem desprovido de ambição, ao contrário da minha mãe que vivia sonhando em construir uma casa, comprar móveis e roupas novas, se preparar para o futuro, mas esse nunca foi um sonho compartilhado pelos dois.
Quando meu irmão mais novo tinha nove meses, ele se foi, pela última vez, morar com a amante que até hoje é sua esposa. Desde então ela passou a viver para criar os filhos menores com a ajuda dos filhos maiores, que aliás muito antes, já eram os mantenedores da familia. E ela sempre muito forte, educou, criou e sustentou nove filhos, praticamente sozinha. Fechou-se para o amor, nunca mais quis outro homem na sua vida. Sofreu e ainda sofre o amor não correspondido, as traições e incompreenções, mas apesar da fragilidade física era sempre indestrutível. Há vi, muitas vezes, chorar sozinha na beira de uma tanque de roupas sujas. Apesar, das perdas e tantos sofrimentos nunca se desviou do caminho que havia escolhido e do que queria para si.
Hoje, trinta anos depois, olho para minha mãe e há vejo definhando. Os musculos trêmulos e enrijecidos, praticamente surda, com dificuldades para se locomover e absolutamente sozinha. Não admite em hipótese alguma sair da sua casa, não aquela que ela planejou, mas há que foi possível ter. As cuidadoras que arrumamos, não duram porque ela não aceita ninguém que não faça as coisas como ela quer. Acaba durante a semana ficando praticamente sozinha. Já faz alguns anos que ela vem nesse processo, já fez um acidente vascular cerebral, que pelos exames não deixou sequelas, sistema nervoso e emocional abastante abalados, cirurgia nos joelhos, pressão alta e por fim há uns três anos, o diagnóstico...doença de parkinson. Desde, então segue-se o tratamento com o que há de mais avançado para o parkinson no mercado e juntamente com mais 6 ou 7 outros medicantes. Haja estrutura física, emocional e financeira para oferecer o mínimo necessário para proporcionar um mínimo de dignidade para quem deu-se a sí mesma para aqueles a quem amava.
No decorrer de últimos anos ela vem ficando pior e as doses de rémedios para o mal de parkinson vem aumentando. Bom, sabemos que parkinson não tem cura. Segundo, a médica que a diagnósticou o remédio reduz o avanço a doença. E, assim ela vem, consultando com vários tipos de médicos, cardiologista, otorrino, gastro, neuro, geriatra e tomando remédios, tomando remédios. Só que nos ultimos meses, para mim ela vem pioriando muito, acho-a muito mais trêmula, ela tem dificuldade de se equilibrar (tem labirintite também) e o mais estranho que tá tendo alucinações. Para mim, ela me parece muito, muito fraça. Mas, graças a Deus, agora achamos uma "tata" para ficar com ela. Preocupa resolvi levá-la no neurgolista, o plano de saúde dela, tinha contratato um novo neurologista.
Bom, depois de ouvi-la, me ouvir, perguntar muitas coisas, examiná-las fisicamente e fazer um teste de memória, com 30 perguntas das quais ela acertou 27, o diagnóstico....ela não tem doença de parkison!!! Mas, doutor????? Sim!!!! Ela não tem problemas cognitivo, nem de memória, não tem enrejecimento muscular e as alucionações???? que remédio tá tomando para dormir? o rivotril! Provavelmente seja essa causa; mas, doutor rivotril é só pra dormir. Remédio de tarja preta para idosos não é recomendado. Vamos fazer uma semana de teste, pode ser que eu esteja engado, rivotril nem pensar e pára de tomar o remédio do parkinson (stalevo) e faz esses exames de sangue para ver outras coisas. E, passa a tomar um antidepressivo e um antipsicótico antes de dormir. Depois de três dias, ela já demonstratava bastante melhora, a fisioterapeuta falou que ela passou a se equilibrar melhorar para os exercícios, o tremores no queijo e mão direita diminuiram bastante, agora ela diz que dorme bem, não vê mais ninguém invadindo a casa. E a fisionomia, melhourou muito.
E, agora José? Acreditar em quem ou no quê?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

..para mim o mais belo de Mario Quintana.

A vida é o dever que trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, já é natal...

Quando se vê, já terminou o ano.

Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê, passaram-se 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio...

Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas...

Seguraria o amor, que está muito à minha frente e diria que, eu amo...

Dessa forma eu digo: não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.

A única falta que terá, será a falta desse tempo que infelizmente...

Nunca mais voltará.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

...o seu normal...

Antes e depois de descobrir que sou bipolar, sempre me perguntei quem realmente sou eu? Nunca imaginei que a resposta para essa questão tão complexa, viria em uma pequena frase, durante uma das sessões de terapia dos últimos dias, o assunto nem lembro qual era. O que ficou marcado foi a imagem da minha psicologa sentada meio de lado, sem me olhar, até agora não sei porque ela disse aquilo, as vezes ela faz isso, diz coisas sem nem fazer parte do assunto, simplesmente soltou essa frase: "vai te acostumando, esse é teu normal!" Esta frase ficou marpelando por muitos dias e acabei chegando a conclusão de que alguma forma, minha psicóloga, havia colocado, vamos dizer, um ponto, não final, mas um ponto nesta questão. Claro que, como o que move o mundo são as perguntas não as respostas, comecei a me perguntar outras coisas, mas isso é assunto para outras postagens.
A medida que o impacto da frase ia sendo processado, fui percendo uma sensação de felicidade me absorvendo. A frase da minha terapeuta, aquele grande ser de 1,40m me colocou no centro de quem eu sou hoje e das descobertas que fiz a meu respeito.
Nesses últimos dias, comecei a me observar, olhar para dentro de mim, observar as coisas que penso e porque penso o que penso, o que sinto e porque sinto e o que vou fazer com o que sinto, descobri em mim uma pessoa muito inteligente e que é capaz de usar a inteligência racional e emocional também, estou aprendendo que não é preciso agir e reagir sempre e todo o tempo e o tempo todo, me convenci de que o teste que fiz, há alguns meses, que apontava em primeiro lugar, habilidades para artes estava certo, agora sei porque amo cinema, teatro, música, arquitetura antiga, história da arte, porque adoro cozinhar e inventar receitas entre outras coisas e coisas que ainda vou descobrir que gosto de fazer. Mas, o que mais me deixa feliz nesse processo todo é ir descobrindo a pessoa que sou e quanto mais descubro, mais gosto daquilo que vejo em mim, apesar da instabilidade por causa de bipolaridade.


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Não fale do que não sabe!

Tem pessoas que não deveriam abrir a boca para fazer comentários a respeito de coisas que não conhecem. Faz alguns dias tive o desprazer de ouvir de um senhor, professor universitário, o seguinte comentário, que segundo o Diogo Lara,  do livro sobre bipolaridade, que Passo Fundo era uma cidade onde o índice de bipoles era altíssimo, que ele havia lido o livro e que ainda conhecia o Diogo Lara, que no livro tem uma tabela com os níveis de bipolaridade e que para os bipolares ficassem estáveis era só tomar um estabilizar de humor.
Quando ouvi essa frase: "É só tomar um estabilizador de humor que melhora", fiquei furiosa, engoli a comida inteira. Já não simpatizava muito com essa pessoa e a partir daquele dia, passei a detestá-lo. Esse senhor acha que porque leu o livro do Diogo Lara, já sabe tudo sobre bipolaridade. A sorte dele foi que o celular tocou e o assunto esfriou, porque já havia me vindo a boca um monte de merda para dizer à ele.
Desde que foi diagnósticada, passei a me informar ao máximo sobre bipolaridade, li vários livros, inclusive os do Diogo Lara, vi documentários, artigos em jornais, revistas, na internet e tenho acompanhado vários blogs de bipolares para saber como eles se comportam, o que sentem e o fazem para viver melhor, trocando figurinhas quem sabe podemos nos ajudar. Minha terapeuta disse para eu parar de ficar lendo tanto sobre bipolaridade, eu disse que não pararia porque quanto mais conhecimento eu adquirir sobre bipolaridade, melhores serão as minhas chances de lidar com ela.
Eu passarei a acreditar que tratar a bipolaridade como um estado de bom ou mau humor, tristeza e felicidade é simplificar demais as coisas. Aliás viver com a bipolaridade não tem nada de simples e não basta tomar um carbolitium que fica tudo bem. A bipolaridade, na verdade, nos impede de ter uma vida comum.
Ser bipolar é acordar pela manhã, abrir os olhos e sentir seu corpo afundar-se no colchão, fazer um enorme esforço para sair da cama e mesmo assim não conseguir abrir os olhos. Tomar café da manhã com carbolitium, passar o dia equilibrando-se entre o céu e inferno, tentando lembrar e esquecer que qualquer coisa pode mudar tudo e também tentando lembra-se do que esqueceu, precisar pensar sobre tudo o que sente, faz e querer. Nunca ir para a cama sem carbolitium, seroquel e apraz e ainda assim não saber como vai ser sua noite. Ver o seu corpo mudar por causa de remédios, controlar o que come e bebe, ter sintomas e não saber se são físicos ou psicológicos, passar por momentos tão angustiantes, que a única pessoa com quem se pode dividir é no máximo sua terapeuta e ainda não saber se ela acredita ou não. Não saber se as pessoas que você ama e que amam você vão aguentar por muito tempo ou olhar para elas e ver que não sabem nada sobre você ou não conseguem entender o que se passa com você, ter que preocupar-se, se está triste e também se está feliz.
Se ser bipolar é simples, deveria haver um vírus para infetar naqueles que pensam assim, porque depois é só tomar um carbolitium que passa.

P.S. Caso o Diogo Lara leia este blog ( o que dúvido muito)
Citei-o porque, realmente, você foi citado na conversa e não encontrei outra forma de introduzir o assunto. Não acredito que tenha dito aquilo.   


segunda-feira, 27 de abril de 2009

momento de inconstância...

É incrivel como a vida de um bipolar é inconstante. A uma semana atrás, pensava que minha vida havia chegado no melhor momento, estava equilibrada; e se continuasse a manter o tratamento, a psicoterapia, natação, dieta alimentar e etc... consegueria me manter bem. Nem tinha percebido, que andava bem demais. E bem demais para um bipolar não existe. Primeira regra dessa guerra: "Conheça, o inimigo que existe dentro de ti". Nunca confie nos seus sentimentos, desconfie sempre do que sua mente está lhe dizendo. Observe as reações do seu corpo. Observe as suas atitudes. Pergunte, sempre, por quê? 
Me deixei levar pelos sentimentos de bem estar, não percebi que estava comprando coisas, nada muito caro, mas pequenos e constantes, num sábado passei a tarde fazendo pequenas compras. Aiiiiii meu cartão!!! Venho saindo, bastante durante a semana, baladas, barzinhosss e shows e com elas bebendo cada dia um pouco mais e constantemente, me concentrando pouco e produzindo nada. O resultado já se sabe! Saldo de caixa, mais que vermelho. Eeeeeeee estava tudo muito bem.
As coisas só ficam ruim mesmo, quando começam vir as chuvas fortes, os trovões e os relampagos. Enquanto o sol está brilhando você acha que está pegando um bronseado, só percebe as queimaduras quando chegam as nuves escuras e com elas as sombras. Num dia da semana passada me irritei com uma besteira no trabalho, hoje pensando nos motivos, realmente coisa boba, senti aquela velha iraaaaaaaaaaa, travando os dentes. Mas, fui para casa e procurei me acalmar, tomei meus remédios e fui dormir. Como sempre, preciso deixar a tv ligada até os remédios fazerem efeito e o sono vir, mas isso não demora mais que meia hora. Só que nessa noite, isso não foi assim. Tudo estava diferente.  Já fazia muito, mas muito tempo que não sabia o que era ter dificuldades para domir. Com a falta de sono veio uma crise de ansiedade, como eu nunca havia sentindo antes. Já havia tido outras, mas essa foi a pior de todas.
Essa crise foi diferente porque tinha consciência do que exatamente estava acontecendo comigo, o coração parecia parar de bater por alguns segundos, tipo.. ele ia enchendo, enchendo e quando deveria bombar o sangue de volta se contraia e não soltava o sangue por alguns segundos; ansia de vômito, senti uma imensa vontade de correr para o banheiro e enfiar os dedos na garganta e vômitar; dificuldades em respirar, o ar não passava pelas narinas, era preciso buscar o ar profunda e lementamente pela boca; e, por último chorava desesperadamente. Acredito que esse quadro durou quase meia hora, quando tive um flash. Me levantei, abri as janelas do apê e comecei a andar, me movimentar e assim fui me acalmando, lembrei que ainda tinha um anseolitico que o psiquiatra receitou para o caso de eu não conseguir dormir, achei que era o caso e tomei.
Depois desses momentos de verdadeiro terror (para quem passa) fui para frente do computador e liguei a web cam para ver meu estado, não sei porque não fui para frente do espelho, seria menos complicado. Acho  que queria gravar, mas quando olhei o meu rosto fiquei apavorada, havia outra pessoa. 
Nos ultimos dias tenho sentido medo de dormir sozinha aqui em casa, deixo a TV ligada até não aguentar mais e sentir que vou dormir mesmo, com medo que essa outra pessoa apareça. Pela manhã, acordo extremamente cansada e tenho vontade de dormir até a hora que meu corpo e mente quiserem. Foi o que fiz no final de semana, fiz festa durante a noite e dormi durante o dia.  
  Desde essa noite venho travando uma luta interna para dominar essa ansiedade, durante o dia tenho que dominar a vontade de correr para casa e dormir, quando sinto aquele mal estar, tento me concentrar em alguma coisa; concentração aliás que anda bem dificil, sem falar nas falhas de memória, simplesmente esqueço o que estou fazendo ou o que queria fazer ou coisas que já fiz e hoje senti muita dor de cabeça, sinto vontade de abrir o crânio para aliviar a pressão, hoje  a natação não ajudou a mente, mas o corpo não está doendo tanto.
Este momento está sendo muito dificil, porque meu psiquiatra tá de férias, minha terapeuta tá em um congresso, mas consegui falar com ela, me disse para ir no hospital e eu disse que não iria. Não quis ir porque, remédio eu já tenho e se é para me dar remédio e eu apagar eu não quero, o que tomo já é suficiente.
O que sinto agora é uma revolta, estou furiosa comigo mesma, por ter me decepcionado dessa maneira. Eu andava achando que tudo que eu fazia já era o suficiente para estabilizar. Uma das característica dos bipolares é a ilusão. 
Eu achedito que desde que fui diagnósticada melhorei muito. Mas, só agora tomo consciência de que melhorei, não estou curada, mesmo porque não existe curada. Sei que faço um esforço enorme, tanto no lado emocional, como no financeiro. A grande pergunta de agora em diante é, o que mais pode ser feito?


domingo, 5 de abril de 2009

O começo...


Eu não sei exatamente quando tudo começou.
 Hoje, olhando para o passado, um passado que não me parece tão distante, vejo aquela época como uma fase nebulosa, momentos de completa escuridão. A minha vida não fazia sentido algum. Era como se eu estivesse amarada a uma roda que girava constantemente. Nada tinha começo nem fim. Vivia por viver. Não havia pensamentos lógicos ou planos para o futuro. Não sabia onde estava, tão pouco onde queria chegar. 
Meus dias eram vividos sob completa ilusão. Me iludia com ganhar muito dinheiro, com falsos amigos, com um amor impossível e com muitas outras coisas que iam e vinham sem se fixar na realidade. Vesti uma máscara que escondia quem eu era. Me escondi não só de todos que me cercavam, mas de mim mesma. Acho que as ilusões me mantinham viva físicamente, porque emocionalmente estava morta para o mundo.
Não demorou para que os vícios se tornassem meus companheiros de solidão e desilusões, fumava e fumava muito, mas o vício do cigaro não era suficiente para suprimir as angustias diarias, o álcool entrou pela boca como um anestésico sentimental. Cada gole, anestesiava o coração da angústia e funcionava como um alívio para dor. Começava o dia meio acordada e terminava bêbada em algum boteco da cidade. Nem sei como chegava em casa, nem nunca foi presa por dirigir alcolizada e graças a Deus nunca me envolvi em nenhum acidente, só graças a Ele.
Meu dia-a-dia era sair da cama, trabalhar, ir para um bar, beber, voltar pra casa e tentar dormir ou passar as noites em claro acompanhada de cigaro a cigaro aguardando minuto a minuto que a noite se fosse e o dia começasse de novo. 
Não percebi quando a única coisa que tinha na vida, tinha se tornado meu próprio inferno. Quanto mais me afundava no trabalho, mais ele me destruia. Desde da primeira até a última hora consciente do dia, tudo se resumia a puro estresse. Eu pensava nos problemas que me cercavam todos os minutos em que estava consciente. E assim foi até bem pouco tempo.
Assim o tempo ia passando e eu não tinha a menor consciência no que se transformara a minha vida. Cada descisão, cada atitude que tomava tentando melhor minha vida profissional a transformava num caos maior, não tinha a menor noção do que fazia, porque tudo era feito por impulso. 
Chegou um momento que havia só raiva e rancor, qualquer coisa era motivo suficiente para detonar um acesso de ira, quando a ira imundava meu cérebro a reação sempre era agredir. Quando não podia reagir, passava remoendo tudo, construindo um paiol de dinamite que logo, logo iria explodir a mim mesma.
É tão contraditorio, que uma pessoa que tenha enterrado toda a sua vida sentimental tenha se tornado uma pessoa completamente impulsiva.
As coisas ainda ficariam muito pior, mas isto é uma próxima postagem. Espero poder seguir relatando minha história para que se alguém vier a lê-la venha a saber que houve outra escolha!
 


sábado, 4 de abril de 2009

reescrevendo minha história..um poema para celebrar

Não sei exatamente de onde veio, nem quem escreveu, mas escolhi como meu decreto de vida!


 ESTATUTO DO HOMEM 

(Ato Institucional Permanente)

    

   Artigo I 
  
   Fica decretado que agora vale a verdade. 
   agora vale a vida, 
   e de mãos dadas, 
   marcharemos todos pela vida verdadeira. 
  
   Artigo II


   Fica decretado que todos os dias da semana, 
   inclusive as terças-feiras mais cinzentas, 
   têm direito a converter-se em manhãs de domingo. 
  
   Artigo III 
  
   Fica decretado que, a partir deste instante, 
   haverá girassóis em todas as janelas, 
   que os girassóis terão direito 
   a abrir-se dentro da sombra; 
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, 
   abertas para o verde onde cresce a esperança. 
  
  
 Artigo IV 
  
   Fica decretado que o homem 
   não precisará nunca mais 
   duvidar do homem. 
   Que o homem confiará no homem 
   como a palmeira confia no vento, 
   como o vento confia no ar, 
   como o ar confia no campo azul do céu. 
  
   Parágrafo único: 
 
  O homem confiará no homem 
  como um menino confia em outro menino. 
  
  Artigo V 
  
   Fica decretado que os homens 
   estão livres do jugo da mentira. 
   Nunca mais será preciso usar 
   a couraça do silêncio 
   nem a armadura de palavras. 
   O homem se sentará à mesa 
   com seu olhar limpo 
   porque a verdade passará a ser servida 
   antes da sobremesa. 

 
   Artigo VI 
  
   Fica estabelecida, durante dez séculos, 
   a prática sonhada pelo profeta Isaías, 
   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos 
   e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. 
  
   Artigo VII 

   Por decreto irrevogável fica estabelecido 
   o reinado permanente da justiça e da claridade, 
   e a alegria será uma bandeira generosa 
   para sempre desfraldada na alma do povo. 
  
   Artigo VIII 
  
   Fica decretado que a maior dor 
   sempre foi e será sempre 
   não poder dar-se amor a quem se ama 
   e saber que é a água 
   que dá à planta o milagre da flor. 
  
   Artigo IX 

   Fica permitido que o pão de cada dia 
   tenha no homem o sinal de seu suor. 
   Mas que sobretudo tenha 
   sempre o quente sabor da ternura. 
  
   Artigo X 

   Fica permitido a qualquer pessoa, 
   qualquer hora da vida, 
   o uso do traje branco. 
  
   Artigo XI 

   Fica decretado, por definição, 
   que o homem é um animal que ama 
   e que por isso é belo, 
   muito mais belo que a estrela da manhã. 
  
   Artigo XII 
  
   Decreta-se que nada será obrigado 
   nem proibido, 
   tudo será permitido, 
   inclusive brincar com os rinocerontes 
   e caminhar pelas tardes 
   com uma imensa begônia na lapela.

 

   Parágrafo único: 

 
   Só uma coisa fica proibida: 
   amar sem amor. 

  
  
   Artigo XIII 
  
   Fica decretado que o dinheiro 
   não poderá nunca mais comprar 
   o sol das manhãs vindouras. 
   Expulso do grande baú do medo, 
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal 
   para defender o direito de cantar 
   e a festa do dia que chegou. 
  
   Artigo Final

 

   Fica proibido o uso da palavra liberdade, 
   a qual será suprimida dos dicionários 
   e do pântano enganoso das bocas. 
   A partir deste instante 
   a liberdade será algo vivo e transparente 
   como um fogo ou um rio, 
   e a sua morada será sempre:
   o coração do homem.